Reciclando arte - Corte / cropping

Reutilizando artes antigas para causar novos efeitos. Um pequeno ajuste de corte e enquadramento pode fazer toda a diferença.

Geralmente, quando um artista termina uma obra, esse término é acompanhado da sensação de satisfação. Por mais que ela seja orgulhosamente apreciada pelo próprio autor em um momento inicial, logo esta peça será deixada de lado, abrindo caminho para que a pessoa criativa siga para a próxima "coisa". Algum tempo depois, os conhecimentos do artista se expandem e se reorganizam e as soluções pensadas para aquela arte, já não causam mais o mesmo efeito, não trazem a mesma satisfação.

Tudo bem! Afinal, se soubesse antes, já teria evitado aquilo ou colocado isso . Então em uma atitude de auto preservação diante de olhares de fora, mas incluido o próprio também, tal arte é guardada e arquivada longe do público. Porém, nada impede de fazermos ajustes. Reaproveitarmos uma arte e dar continuidade de onde paramos.

É um recurso muito fácil de ser aplicado hoje em dia em mídias digitais e seu efeito é grande, podendo mudar completamente a sensação causada em uma composição.

Reciclar um conceito pode acontecer de muitas maneiras. Ajustar tons, cores, formas... Hoje pensaremos sobre corte (cropping) que, basicamente, é sobre como enquadramos um tema no nosso plano de trabalho. É um recurso muito fácil de ser aplicado hoje em dia em mídias digitais e seu efeito é grande, podendo mudar completamente a sensação causada em uma composição.

Veremos aqui um pequeno exemplo. Não através de um olhar de julgamento sobre o que é melhor ou pior, mas as variações e efeitos causados por enquadramentos diferentes. Nada além do corte foi alterado nas imagens abaixo. Inclusive, neste caso, ainda mantivemos a proporção do formato. A imagem se trata sobre uma partida de tênis, mas que foco queremos dar sobre o momento mostrado?

Aqui temos uma silhueta bem definida do jogador com a raquete, vemos o todo deles facilitando seu discernimento. Além disso, há essa mancha mais escura que ajuda ancorar o olhar no personagem. Apesar do borrão de movimento, as formas atrás são intrincadas e com detalhes, retendo e segurando mais o movimento do olhar e ajudando na descrição da cena.

O jogador em seu posicionamento, quase centralizado, tende à causar uma impressão estática. Nesta versão, a descritividade da imagem é acentuada. Estamos destacando as coisas que compõe o evento, uma partida tênis.

Já nesta versão cortada da imagem anterior, destacamos a sensação de movimento e a ação do personagem. O jogador tem sua figura cortada perdendo parte da leitura icônica, assim, enfatizando uma ideia de saída do plano. Aqui ele também parece menos centralizado em relação ao todo. A mancha criada é mais importante que a descrição.

Com este corte também reduzimos a quantidade de informação e desenhos na imagem, tornando ela uma leitura mais rápida. Além disso, desta forma as forças direcionais do grafismo ao fundo ficam mais evidentes.

Nestes últimos três, alguns exemplos mais drásticos. Mudamos o formato e (com cortes mais exagerados) também mudamos o tema. Estas imagens não são sobre a ação que acontece, mas sim os objetos que estão nela. Isso é percebido de tal maneira pois os objetos têm uma presença dominante na tela. Então mudamos nosso discurso, agora as imagens são sobre um tênis, uma raquete ou o próprio jogador.

Podemos escolher qualquer uma delas como uma versão final, desde que seja coerente com a proposta do autor. Compor uma imagem depende de um contexto e uma intenção. Aqui criamos alguns resultados diferentes apenas com o corte. Espero que estas análises tenham evidenciado o potencial criativo desta ferramenta! Este é um tópico que desenvolvo mais à fundo no meu curso de composição.